Por Lúcia Helena Rosolen Alves

Foi num domingo de manhã que acessei o Linkedin e surgiu aquele post convidando à formação da primeira turma em Segurança Psicológica de Times. Mais um pouco e me convidou a clicar em “saiba mais”. Pois é, hoje estou aqui irremediavelmente apaixonada pelo tema, escrevendo para vocês.

Quando me aproximei de fato do conceito, vi que tudo aquilo que sempre imaginei como liderança tinha um nome e essa habilidade para liderar  passou a ter um sentido diferente para mim.

Sempre acreditei que a liderança é uma jornada de crescimento e desenvolvimento e, portanto, o líder não nasce pronto. Alguns têm perfis que facilitam a liderança, mas esse ser que conduz outros seres é construído através de autoconhecimento, técnicas, ferrramentas e coragem.

A primeira grande verdade que constatei posteriormente foi: desenvolver liderança para construir um ambiente com segurança psicológica só é possível trabalhando o líder junto com seu time. O líder não está acima do time. Está junto a ele, num círculo de profunda conexão.

A segunda foi que: conexão profunda só se dá em ambientes que permitam que o eu completo de uma pessoa seja bem vindo ali. E isso só é viável onde exista confiança, ambiente de aprendizagem, acolhimento, espaço de fala, valorização das entregas e ausência de medo.

Focando exclusivamente no papel do líder, afirmo que a Segurança Psicológica é o caminho para a liderança do século XXI.

James R. Detert escreveu no artigo – Segurança Psicológica precisa de líderes corajosos. O que líderes corajosos fazem diferente – “A maioria de nós sabe que nossas opiniões de “cara durão” (e sim, infelizmente, altamente masculinos) de “liderança”, “bravura” e “coragem”. (…) são ultrapassadas, sub-ótimas e às vezes, totalmente perigosas para as organizações onde a maioria dos tipos de trabalhos são feito hoje.”

Pois bem, ouso dizer que na liderança – com raras exceções – existe uma dor real a partir daquilo que esse perfil de “cara durão” exige do líder, não facilitando a conexão com os liderados e ainda deixando-o só, em sua única companhia. Por outro lado, os ambientes organizacionais estão necessitando (mais que pedindo) de uma Liderança diferenciada, humanizada e presente.

E nesse momento entra em cena a Segurança Psicologica de Times trazendo um caminho de pedras diferenciadas para trilhar essa jornada rumo às equipes que performam, crescem, aprendem, inovam e se conectam.

A Segurança Psicológica de Times, através de seus sete elementos, torna-se um facilitador para essa jornada do líder do presente e futuro.

“Quando as pessoas falam, perguntam, debatem, compartilham erros e se comprometem com o aprendizado e com as melhorias contínuas, coisas boas acontecem.”(Amy Edmondson)

E é exatamente isso que os sete elementos implantados e vivenciados nos times, permitem que este floresça. São eles:

Se um determinado time de trabalho está atuando dentro de uma organização, mesmo com mediana entrega, ele terá um ou mais dos elementos presentes e “honrados” por aqueles colaboradores. Porém, a existência de gaps com relação aos demais elementos é que determinará a excelência ou não daquele time.

O Google descobriu em seu Projeto Aristóteles que o que define um time de alto desempenho não são os talentos individuais e recursos disponibilizados, mas sim, a conexão existente entre todos.

Portanto, trabalhar a conexão é o que há de mais sagrado em todos os times de trabalho. E ela só existe em ambiente psicologicamente seguro.

Amy Edmondson, em seu livro “A Organização Sem Medo” (2020) nos apresenta o que ela intitulou de “A Caixa de Ferramentas do Líder Para Construir Segurança Psicológica”, contendo os três passos principais para quem deseja criar um ambiente seguro:

Este ambiente que propicia resultados excelentes, inovação, aprendizagem, conexão e pertencimento, não se faz de um dia para o outro sendo, portanto, necessária determinação, envolvimento de todos (e não somente do líder), abertura e transparência.

Como Preparar o Terreno podemos entender todas as ações visando clarear expectativas (Enquadrar o Trabalho) quanto ao que é esperado, a interdependência de todos e necessidade da fala. Identificar o que é importante para todos (Enfatizar o Propósito).

Convidando a Participação pressupõe aceitar as diferenças de idéias, olhares, conhecimento, cultura (Demonstrar Humildade Situacional). Introduzir no dia-a-dia boas perguntas e uma escuta intensa (Questionamento na Prática). Criar espaços e ambientes de colaboração, dar direção e diretrizes (Estabelecer Estruturas e Processos).

E a vez do último passo Respondendo de Forma Produtiva ter a certeza do ouvir, aceitar e agradecer, valorizando as entregas (Expressar Valorização). Ressignificar a falha, olhar para frente, oferecer ajuda, discutir, considerar e ter idéias sobre os próximos passos (Eliminar o Estigma da Falha). Também deixar claro aquilo que não é aceitável no time (Sanções de Violações Claras).

Utilizando-se desta “Caixa de Ferramentas do Líder” a autora nos aponta as realizações que seguramente a liderança apresentará:

Expectativas e significados compartilhados, confiando que toda a voz é bem-vinda e ainda, a orientação em direção ao aprendizado contínuo.

Não poderia deixar de citar neste artigo dois dos fundamentos preciosos da Segurança Psicologica de Times que são: Confiança e Respeito e Comportamento de Liderança.

Brené Brown em seu livro “A Coragem para Liderar” (2019) escreve “… a confiança é a cola que mantém as equipes e organizações unidas. Ignorar problemas de confiança prejudica o nosso próprio desempenho e o sucesso da nossa equipe e da organização. E existem muitas pesquisas que confirmam essa afirmação”.

Nós facilitadores sabemos na prática que esta afirmação da Brené Brown é observada constantemente nas equipes com as quais trabalhamos.

E sendo assim, precisamos apoiar e facilitar que os líderes dentro das organizações sejam instrumentos de geração de confiança e respeito dentro de seus times.

“No passado, os empregos dependiam dos músculos, agora dependem do cérebro, mas no futuro eles vão depender do coração”

(Minouche Shafik, diretor da London School of Economics)

E nesse coração estará a confiança e respeito, cultivados através do acolhimento à própria vulnerabilidade do líder, quando percebe que tem sentimentos e não possui todas as respostas. Que também tem medo e que falha. E que neste acolhimento ele passa a ser corajoso e confiável.

“A confiança é o acúmulo e sobreposição dos pequenos momentos e da vulnerabilidade recíproca ao longo do tempo. A confiança e a vulnerabilidade crescem juntas, e trair uma delas é o mesmo que destruir as duas.” (Brené Brown).

Vejo com muita frequência líderes que respiram aliviados quando em minhas facilitações ouvem sobre o acolhimento à vulnerabilidade como meio de construir confiança. Sei que dentro dele ainda existe aquele arquétipo do “cara durão”, mas quanto mais falarmos sobre ser vulnerável, mais tornamos nossos líderes verdadeiramente empoderados e corajosos.

Quanto ao respeito, não posso deixar de citar Stephen M. R. Covey em seu livro “A Velocidade da Confiança” (2017) quando diz “… o princípio maior é do valor intrínseco da importância dos indivíduos – de cada ser humano como parte da família humana. Esse comportamento é a Regra de Ouro em ação – uma regra que é abraçada por quase toda cultura e religião do mundo”. Assim sendo, se tivermos esse olhar humano sobre o outro, o respeito acontecerá organicamente.

Comportamentos do líder para um ambiente seguro psicologicamente pressupõe que seja acessível, queira aprender sempre, olhe as falhas como oportunidades, acolha e inclua os liderados à participação, dar o mesmo espaço de fala, seja assertivo, direcione e dê limites e responsabilize as pessoas por desrespeito ao acordado. Nós precisamos ajudar a liderança ao nosso redor no desenvolvimento desses comportamentos extraordinários!

A criação de um ambiente com Segurança Psicológica dentro de um time não se faz num passe de mágica. É fruto de construção diária, pisando em caminhos delicados, que requerem atenção e cuidado e que necessita ser desejada, alimentada e trabalhada por todos os seus membros indistintamente.

Mas certamente – acredito verdadeiramente nisso – nesta jornada sagrada haverá um final feliz!

Lúcia Helena Rosolen Alves, facilitadora em Desenvolvimento humano e organizacional, Coach,Facilitadora em Segurança Psicológica de Times, autora do livro Assim é!

“Acredito verdadeiramente no poder de transformação que o ser humano traz dentro de si”.

Artigo escrito e publicado para a edição 106 (março 2022) da Revista Coaching Brasil com curadoria do IISP

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