10 de janeiro de 2023 | Traduzido por IISP – Instituto Internacional em Segurança Psicológica (www.segurancapsicologica.com)
“Conte-me sobre um erro que cometeu” é uma das perguntas mais temidas junto com “Fale-me sobre você” e “Por que você quer trabalhar aqui?”
Mas você não pode culpar as pessoas de perguntarem isso. Histórias de erros podem revelar informações importantes sobre a maturidade, resiliência, temperamento, abertura ao aprendizado e capacidade de receber feedback crítico de um candidato — qualidades que não aparecerão em um currículo ou carta de apresentação e provavelmente não serão mencionadas se não for solicitado.
Isso significa que você deve responder de qualquer forma?
Não. Seus instintos gritantes de autopreservação estão corretos. Compartilhar uma falha embaraçosa e com consequências pode deixar uma impressão negativa, mas você também não deve parecer evasivo. Então, onde está a zona segura entre uma resposta reveladora e uma repulsiva? É complicado navegar entre elas, por isso pratique esta reflexão sempre que possível.
Como responder a “Conte-me sobre um erro que cometeu”?
Aqui estão oito dicas para responder a essa pergunta – que é muito comum – e alguns exemplos do que dizer (e do que evitar).
- Concentre-se mais no aprendizado do que no fracasso.
O que a pessoa que pergunta deseja em última análise – e ela pode até declarar isso explicitamente – não é saber qual o erro em si, mas sim o que você aprendeu com ele e como transformou este aprendizado em uma abordagem produtiva. Então, escolha uma história com essas reflexões em mente. Muitas vezes, são mais falhas de atenção, de falta de apreciação e de preparação do que falhas de execução, que estraguem ou prejudiquem algo completamente.
Para isso, nem procure por falhas. Comece procurando por momentos de revelação, realização, correção de curso e melhoria. Esses momentos podem ser apresentados como uma “história de fracasso” se você os compartilhar cronologicamente. Por exemplo:
Há três anos, estávamos fazendo A, mas percebemos que o resultado ficou aquém da meta. As coisas simplesmente não estavam funcionando. Muitos viram como um fracasso, mas nós também vimos como uma oportunidade de melhorar, então fizemos uma análise minuciosa e percebemos que a B era uma tática melhor. Nós o ativamos e agora estamos vendo um C maior.
Observe também como a falha é seguida imediatamente pela correção (“Muitos viram isso como uma falha, mas também foi uma oportunidade de melhorar.”) Não deixe que a falha e seu impacto persistam e possivelmente prejudiquem sua reputação — enfatize correção e deixá-lo levar o centro das atenções.
Por fim, saiba a diferença entre aprendizado/realização e correção/melhoria. Você não passou do fracasso à solução magicamente — o aprendizado/realização foi uma etapa crítica para a correção/melhoria. Certifique-se de articular as duas etapas para que saibam como você foi do erro para o aprendizado e depois para a melhoria, e não do erro para a melhoria.
- Escolha um erro de cálculo de estratégia.
Todo mundo comete erros, mas em uma entrevista, por exemplo, um simples erro pode ser percebido como uma falha pessoal – que pode cair no julgamento. Os maiores aprendizados vêm de erros de planejamento de estratégia. Quando é que algo não saiu como planejado? Quando é que uma estratégia foi ineficaz? Quando é que uma decisão não acertou o alvo? Esses eventos acontecem com frequência em locais de trabalho, não são vistos como pessoais e são mais prováveis de serem recalibrados de forma que impacte o negócio. Por exemplo:
Quando iniciamos o projeto, fizemos suposições sobre o que nossa base de clientes já sabia. Mas quando a primeira fase não saiu como planejado, ficou claro que julgamos mal. Para corrigir esse problema, realizamos testes de grupo de foco antes da próxima fase para garantir que nossa campanha correspondesse ao entendimento do público-alvo, e carrego essa lição comigo hoje.
- Não dê atenção extra para a palavra “fracasso”.
Dizer a palavra “fracasso” uma vez é apropriado para demonstrar que você está respondendo à pergunta diretamente. Depois, você pode tirar a carga toda que vem com esta palavra chamando-a de “resultado”, “evento” ou “consequência”, que são termos neutros, não negativos. Por exemplo:
Nossa falha em prever esse problema nos obrigou a examinar esse evento (não “erro” ou “engano”) de perto e tomar medidas para evitar esse resultado (não “falha”) no futuro.
- Procure por um nós, não por um eu.
Muito possivelmente o seu trabalho impacta e depende de outra pessoa. Erros que envolvem um grupo de pessoa são comuns e por isso mais compreensíveis do que um erro de caráter pessoal, pois havia consenso por trás da tomada de decisão e tem o benefício colateral de reforçar o seu compromisso com o trabalho em equipe na busca por melhoria; portanto, conte situações que de tomada de decisão que envolva outras pessoas onde o aprendizado foi coletivo e o impacto gerado foi maior. Exemplos de elevação “eu-para-nós”:
“Eu não percebi” para “Nós não percebemos…”
“Não previ esse resultado” para “Nossa equipe não previu esse resultado”
“Eu não sabia” para “Meus colegas e eu não sabíamos….
- Aponte para consequências significativas.
Sinta-se à vontade para compartilhar um momento em que a consequência foi menor, mas certifique-se de que a correção foi significativa, porque lembre-se: eles estão muito mais interessados em sua resposta do que no que a desencadeou. A consequência pode até ser uma falha em potencial, mas certifique-se de que foi um perigo possível, não hipotético. Exemplos:
Embora tenhamos conseguido corrigir o folheto na edição seguinte, imediatamente adicionamos uma etapa importante ao processo: instituir outros níveis de revisão antes de publicarmos o novo material.
Quase perdemos a conta — o que teria sido um resultado ruim — mas nos reunimos e elaboramos uma nova narrativa (“pitch”) que atendesse melhor às necessidades do cliente.
- Compartilhe o erro e saia dele, dando foco ao aprendizado.
Pense no seu fracasso como um ato de abertura da sua fala, não como o protagonista da sua história. Seu único propósito é fornecer contexto e configurar sua história de melhoria e aprendizado, então mantenha-o firme: “Z aconteceu. E Y foi o resultado. Mas aprendemos A e aplicamos B.” Compartilhe o erro de forma breve e saia dele.
- Não se coloque em defensiva.
Após apresentar uma falha, é comum algumas pessoas diminuírem o dano defendendo, racionalizando ou minimizando o que aconteceu. Mas lembre-se que o objetivo é: mostrar o aprendizado, qual a ação de correção tomada e a melhoria alcançada. Então, escolha uma história que permita você contar o quanto se dedicou a encontrar melhorias, e essa falha se tornará uma nota de rodapé, e não o foco.
Exemplos de respostas defensivas que chamam atenção para o erro em si:
“Isso não nos atrasou muito, mas muitas pessoas reagiram de forma exagerada.”
“Eu estava certo o tempo todo – eles simplesmente não perceberam.”
“No final foi bom eu ter errado mesmo, porque…”
- Escolha as palavras que você usa.
Ao longo deste artigo, usei uma variedade de palavras para indicar como alguém aprende e supera o erro. Familiarize-se com elas para evitar soar repetitivo:
Para falar sobre aprendizagem, use palavras como:
- Aprendido
- Recolhido
- Percepção adquirida
- Percebeu
- Entendido
Para falar sobre superar um desafio, use palavras como:
- superado
- Melhorado
- Elevado
- corrigido
Para falar sobre a ação tomada, use palavras como:
- Recalibrado
- Ajustado
Veja aqui um exemplo de uma resposta completa:
Juntando todos esses conselhos, veja como uma história eficaz de fracasso pode ser contada com foco no aprendizado:
No ano passado, minha equipe introduziu um novo sistema de arquivamento interno baseado em nuvem para a empresa e o lançou o mais rápido possível. Mas quando a equipe relatou erros e frustrações ao usá-lo, percebemos que não tínhamos levado em consideração a curva de aprendizado que haveria. Assim, nos reunimos e trabalhamos com nossa equipe de comunicação interna para desenvolver uma campanha educacional em toda a empresa, incluindo vídeos de instruções, perguntas e respostas com a equipe de TI e um endereço de e-mail dedicado para receber ajuda. Lamento não termos incluído isso em nosso plano de lançamento, mas trabalhamos muito para aprender com o que aconteceu e agora priorizamos a educação do usuário em todos os lançamentos de produtos. Hoje, 95% de nossa equipe utiliza diariamente a plataforma em nuvem, o que significa mais eficiência e maior segurança para nossos arquivos.
Embora ninguém espere que sejamos perfeitos, também não desejamos dar motivos para julgamentos e pré-conceitos, não é mesmo? Se você falar sobre o “erro” destacando suas habilidades de resiliência e de compromisso com o aprendizado e com o progresso, você será lembrado por como você lidou e aprendeu com tudo, e não pelo erro cometido.
Joel Schwartzberg supervisiona as comunicações executivas de uma importante organização sem fins lucrativos nacional, é um coach profissional de apresentações e autor de “Get to the Point! Afie sua mensagem e faça com que suas palavras sejam importantes” e “A linguagem da liderança: como engajar e inspirar sua equipe”. Você pode encontrá-lo no LinkedIn e no Twitter @TheJoelTruth.
Fonte original: https://hbr.org/2023/01/how-to-answer-tell-me-about-a-time-you-failed-in-a-job-interview