Por Tom Geraghty
6 dezembro de 2024 | Traduzido por IISP – Instituto Internacional em Segurança Psicológica (www.segurancapsicologica.com)
Em algumas newsletters anteriores, exploramos dinâmicas de poder, gradientes de poder, “poder sobre” vs. “poder para” e “poder de” (veja Mary Parker Follett ). Gradientes de poder acentuados são o principal inibidor da segurança psicológica, e abordar esses gradientes é uma das primeiras ações necessárias para melhorá-la.
Neste texto, queríamos ilustrar algumas formas pelas quais categorizamos o poder. Quanto melhor formos capazes de entender o poder e comunicar esse entendimento aos outros, mais preparados estaremos para intervir e lidar com desequilíbrios que prejudicam o desempenho da equipe ou, nos piores casos, causam danos reais às pessoas. Isso se conecta à ideia de “letramento em poder” – se não tivermos a linguagem para falar sobre poder, podemos nos encontrar impotentes para enfrentar a desigualdade.
““Nem tudo o que é enfrentado pode ser mudado, mas nada pode ser mudado até que seja enfrentado.”
James Baldwin
Existem muitas correntes de pensamento sobre o poder, e artigos e livros inteiros foram escritos sobre o tema. No Psych Safety, tentamos manter as coisas simples o suficiente para serem práticas e aplicáveis, mas detalhadas o suficiente para serem significativas. Descobrimos que essas tipologias são as mais precisas e úteis: Formal, Informal, Demográfica e de Especialista.
Quatro (de muitos) Tipos de Poder
- Poder Formal é conferido pelas estruturas, hierarquias, regras e leis que nos regem, sejam elas de estados-nação, organizações, equipes ou comunidades.
- Poder Informal é atribuído e definido por nossas redes sociais, sistemas de crenças, perspectivas individuais e coletivas, e histórias. No contexto de trabalho, mesmo que não ocupemos um cargo sênior, podemos ter um grau de poder informal devido à nossa popularidade e status social entre os colegas.
- Poder Demográfico é o poder que deriva de fatores como gênero, raça, idade e sexualidade. Dependendo do ambiente em que estamos e das normas dominantes desse espaço, pode ser mais fácil influenciar e fazer nossa voz ser ouvida se formos, por exemplo, um homem branco de classe média.
- Poder de Especialista vem do nosso nível de expertise e, às vezes, das experiências que tivemos – é o poder conferido pelo nosso conhecimento, mas, é claro, só funciona como poder quando outros reconhecem sua relevância.
Esses tipos de poder não são independentes entre si, e desequilíbrios significativos em qualquer tipo de poder geralmente resultam em níveis mais baixos de segurança psicológica. Quando levamos em consideração esses diferentes tipos de poder, fica claro que a estrutura formal de poder, ditada e descrita pela hierarquia organizacional, pode não refletir como o poder real na organização realmente se apresenta. Na verdade, provavelmente não reflete. Ele pode se assemelhar mais à imagem mostrada abaixo…
Maneiras de Pensar sobre o Poder
Não somos os primeiros a examinar os diferentes tipos de poder, e nossa definição de poder é baseada no trabalho de muitos outros que vieram antes de nós.
Na obra de Rousseau do século XVIII sobre o “contrato social” , – que, nesse contexto, trata da legitimidade da autoridade do Estado para exercer poder sobre os indivíduos – ele escreveu:
“Admitamos, então, que a força não cria direito, e que somos obrigados a obedecer apenas aos poderes legítimos.”
Em outras palavras, a força não faz o direito, e as pessoas não têm dever de se submeter a ela. No entanto, existem outros tipos de poder além da mera força, e muitas vezes não temos escolha a não ser nos submeter ou ser influenciados por eles.
Em 1959, os psicólogos sociais French e Raven descreveram cinco bases de poder :
1. Legítimo – Deriva da crença de que uma pessoa possui o direito formal (legal ou político) de fazer exigências e esperar que os outros sejam obedientes e cumpram suas ordens.
2. Recompensa – Resulta da capacidade de uma pessoa de compensar outra pela conformidade, o que essencialmente está relacionado à função da riqueza.
3. Especialista – Baseia-se nos níveis mais altos de habilidade, expertise e conhecimento de uma pessoa.
4. Referente – É o resultado da percepção de atratividade, valor ou direito de uma pessoa ao respeito dos outros. Pense em celebridades, carisma ou, potencialmente, outros aspectos como classe ou idade. Influenciadores nas redes sociais tentam capitalizar esse tipo de poder.
5. Coercitivo – Provém da crença de que uma pessoa pode punir outras pela não conformidade. Isso pode ser tão extremo quanto força militar ou tão cotidiano quanto o poder de um gerente ou professor de punir de alguma forma (também pode ser o impacto inverso do poder de Recompensa – por exemplo, ao reter uma recompensa)
Seis anos depois, Raven adicionou uma base de poder extra:
6. Informacional – Resulta da capacidade de uma pessoa de controlar as informações às quais outros têm acesso. Atualmente, na era da internet e com figuras como Elon Musk e Mark Zuckerberg, essa base de poder é ainda mais relevante e, sem dúvida, a mais significativa de todas.
John Kenneth Galbraith escreveu “A Anatomia do Poder” em 1983 e classificou de forma mais simples três tipos de poder:
- Poder Compensatório, no qual a submissão é comprada.
- Poder Coersivo, no qual a submissão é conquistada tornando a alternativa suficientemente dolorosa, e
- Poder Condicionado, no qual a submissão é obtida por meio da persuasão.
Para colocar isso em termos mais acessíveis, podemos pensar nesses conceitos como dinheiro, força e ideologia.
A teoria feminista também tem muito a dizer sobre o poder, especialmente sobre sua natureza menos explícita e muitas vezes não declarada, que chamamos de poder “demográfico.” Esse tipo de poder é frequentemente negligenciado nas organizações e está fortemente conectado ao conceito de privilégio.
Deborah Cameron descreve uma identidade “não marcada” como aquela que é considerada padrão, não exigindo reconhecimento ou destaque explícito. Por exemplo, a heterossexualidade é não marcada e assumida como norma, ao contrário da homossexualidade, que é “marcada” e exige um sinalizador para indicar que é “diferente.”
Da mesma forma, especialmente nas culturas ocidentais e no mundo dos negócios, a masculinidade é não marcada, enquanto a feminilidade é marcada. A linguagem e a apresentação masculina são vistas como neutras e mais poderosas, enquanto a linguagem e a apresentação feminina são consideradas diferentes, destoam da norma e são percebidas como menos poderosas. Identidades não marcadas tendem a conferir privilégio.
Poder Formal, Informal, Demográfico e de Especialista
Dada toda essa nuance e variação interessantes, por que tendemos a trabalhar com as quatro categorias de poder: Formal, Informal, Demográfico e de Especialista? Descobrimos que essas categorias são uma forma bastante acessível e útil de abordar o poder. Tendemos a compreendê-las intuitivamente e, geralmente, conseguimos reconhecer e lidar com esses tipos de poder em nossos próprios contextos.
Sabendo que todos eles podem criar gradientes de poder problemáticos, que podem ser barreiras para que as pessoas se manifestem, eles também nos oferecem ideias para abordá-los. Por exemplo, podemos estruturar nossas equipes e organizações de maneiras diferentes para reduzir os gradientes de poder formal.
Quando se trata de abordar a influência do poder informal ou demográfico, o mínimo absoluto que podemos fazer é reconhecer que ele existe. A partir daí, podemos buscar maneiras de mitigá-lo, amplificando outras vozes e incentivando perspectivas diversas.
Ao reconhecer o poder de especialista, podemos aproveitar ao máximo a expertise disponível, ao mesmo tempo que mitigamos seu possível efeito sobre vozes mais silenciosas ou juniores (que, como vimos, também são essenciais para identificar e amplificar sinais fracos).
O poder gera poder. Por sua própria natureza, e em qualquer forma, o poder tem maior capacidade de acumular ainda mais poder quando surge a oportunidade. É por isso que organizações e a sociedade necessitam de fortes mecanismos e salvaguardas para evitar a superacumulação e o monopólio do poder.
Tudo isso, é claro, não significa que pessoas que alcançam poder em organizações ou na sociedade em geral sejam más, obcecadas por poder, mesquinhas ou egoístas – elas são tanto jogadoras nesse jogo quanto qualquer outra pessoa. Todos nós somos.
Há um grande valor em experimentar diferentes formas de estruturar, transferir, nivelar e mitigar o poder. Vamos abordar algumas dessas ideias em artigos futuros, mas vale destacar, em particular, que transferir ou delegar autoridade para onde o trabalho realmente acontece é, em quase todos os casos, algo positivo.
À medida que nos tornamos mais “alfabetizados” em relação ao poder, também cabe a nós questionarmos como estamos, como indivíduos, utilizando os diferentes tipos de poder que possuímos para o benefício dos outros – sempre nos protegendo contra o uso indevido e o abuso do poder.
Tom Geraghty, fundador e CEO da Iterum Ltd, é um especialista em equipes de alta performance e segurança psicológica. Aproveitando sua formação única em pesquisa ecológica e tecnologia, Tom ocupou cargos de CIO/CTO em diversos setores, desde startups de tecnologia até empresas globais de finanças. Ele possui graduação em Ecologia, um MBA e está cursando um mestrado em Saúde Global na Universidade de Manchester. Sua missão é tornar os ambientes de trabalho mais seguros, de alta performance e inclusivos.
Um renomado palestrante, Tom compartilhou seus insights em grandes eventos como o IT Leaders Summit e a NHS Senior Leadership Conference. Conecte-se com ele no LinkedIn (@geraghtytom), Twitter (@tom_geraghty) ou explore seu trabalho em tomgeraghty.co.uk e psychsafety.com.
Fonte original: https://psychsafety.com/typologies-of-power/