Por Amy C. Edmondson and Tomas Chamorro-Premuzic
19 de outubro de 2020
Resumo
Ao contrário da crença popular, os líderes onipotentes e eficazes de estilo machista não são os que melhor podem orientar seus países ou organizações em tempos difíceis e incertos. Em vez disso, os líderes mais eficazes são aqueles que estão dispostos a mostrar suas vulnerabilidades — que estejam aptos a admitir para si mesmos e para os outros quando estão errados e o que sabem e o que não sabem. Para cultivar esse estilo de liderança, comece dizendo a verdade; peça ajuda; saia da sua zona de conforto; quando cometer um erro, admita e peça desculpas; e envolva outras pessoas em sua jornada de autoaperfeiçoamento.
Alguns mitos são tão difundidos quanto a ideia de que os líderes devem parecer resistentes e confiantes. Ou pelo menos, esse era o caso antes da atual pandemia, que expôs as muitas fragilidades de líderes vigorosos e dominantes e destacou a superioridade daqueles que têm a coragem de revelar suas vulnerabilidades.
Considere como Donald Trump, Boris Johnson e Jair Bolsonaro rejeitaram o vírus, demonstraram presunção destemida e minaram os apelos para o uso de máscara ou distanciamento social, colocando os demais em risco. Compare isso com a sincero e assertivo direcionamento dado por por Angela Merkel, Jacinda Ardern e Sanna Marin, que salvou milhares de vidas e atenuou os danos econômicos à Alemanha, Nova Zelândia e Finlândia.
Pessoas em organizações de todos os tipos ficam melhor quando seus líderes são inteligentes, honestos e atenciosos ao tomarem ações ousadas e potencialmente impopulares – quando seu foco está em ajudar a organização a avançar, não em sua aparência e certamente não em criar uma falsa sensação de invencibilidade que acaba prejudicando as pessoas.
Em um mundo complexo e incerto que exige constante aprendizado e agilidade, os líderes mais aptos e adaptáveis são aqueles que estão cientes de suas limitações, têm a humildade necessária para aumentar o seu próprio potencial e o dos outros, e são corajosos e curiosos o suficiente para criarem conexões sinceras e abertas com os demais. Eles constroem ambientes inclusivos dos times, com segurança psicológica, que promovem críticas construtivas e dissidência.
Acima de tudo, eles abraçam a verdade: estão mais interessados em entender a realidade do que em estar certos e não têm medo de aceitar que estavam errados. Isso permite que eles recebam críticas — não porque gostem mais do que o resto de nós, mas porque eles sabem que é necessário para progredir. Ao todo, este é um tipo muito diferente do líder de estilo machista, que raramente está certo, e não consegue admitir isso.
Existem líderes que se destacaram pelo seu estilo vulnerável. Uma é Oprah Winfrey, que se tornou a primeira mulher negra bilionária da história graças a uma carreira empreendedora multitalentosa que colocou vulnerabilidade e autenticidade no centro, vivendo sua vida “de dentro para fora.” Outra é Satya Nadella que ressuscitou a Microsoft transformando sua cultura com base em seus próprios drivers principais: humildade, curiosidade e aprendizado constante. E um terceiro exemplo é Howard Schultz: Quando ele retornou à Starbucks em 2007, depois que o negócio experimentou um declínio substancial, ele se abriu com seus funcionários e foi transparente sobre seus desafios e vulnerabilidades, o que ajudou a impulsionar um retorno ao crescimento. Embora eles e outros como eles tenham sido admirados, líderes vulneráveis não receberam a atenção pública generalizada e os elogios que líderes machistas e heroicos receberam.
O que você pode fazer para cultivar um estilo de liderança mais vulnerável? Aqui estão algumas sugestões:
1. Comece dizendo a verdade. Compartilhe sua perspectiva sincera com outras pessoas, o que você sabe e o que você não sabe. Embora seja fácil dizer às pessoas o que elas querem ouvir, os melhores líderes dizem a verdade às pessoas, não importa o quão traumático seja. Quando você tiver clareza sobre os desafios futuros, você ajuda sua equipe. Ser aberto sobre suas fraquezas é o sinal final de força.
2. Peça ajuda. A liderança não é heroica. Não se trata da pessoa no comando; na verdade, é mais sobre desbloquear as forças que unem as pessoas como uma equipe. Isso exige que você seja honesto sobre suas vulnerabilidades e sua necessidade de suporte. Essa autenticidade aumentará o compromisso deles com você e liberará suas ideias e energia para enfrentar os desafios em questão. Isso tornará seu time mais forte.
3. Saia da sua zona de conforto. Uma das razões pelas quais tantas pessoas não conseguem se tornar líderes altamente eficazes é que elas estagnam, operam em piloto automático, autoperpetuam seus hábitos e repetem o que funcionou no passado. É por isso que jogar com seus próprios pontos fortes pode ser uma receita para o desastre: a menos que você trabalhe em seus defeitos, você não desenvolverá novas habilidades. Sim, isso fará com que você pareça vulnerável a curto prazo, porque seu desempenho sempre sofrerá quando você estiver aprendendo uma nova habilidade ou comportamento. Mas isso vai torná-lo mais forte a longo prazo.
4. Quando você cometer um erro, admita e peça desculpas. Quando você fizer isso, não importa o quão decepcionadas as pessoas estejam, elas apreciarão sua honestidade e confiarão mais em você do que se você mentir para elas. A sensação de invencibilidade a curto prazo que você pode experimentar quando se abstém de admitir seus erros é (a) de curta duração e (b) delirante. Deixar de admitir que você estava errado é uma estratégia ineficaz para persuadir os outros de que você está certo, e quando essa estratégia falhar, as pessoas questionarão não apenas seu julgamento, mas também sua autoconsciência.
5. Envolva outros em sua jornada de autoaperfeiçoamento. Ao longo de nossas carreiras de coaching e consultor, vimos alguns líderes que levaram a sério seu plano de desenvolvimento pessoal que compartilharam abertamente seus comentários (360s, avaliações de desempenho, feedback ascendente etc.) com seus times. “Olha, não sou muito bom em dar feedback e desenvolver o desempenho de outras pessoas”, disse um deles ao time. “Então, a partir de agora, estou me comprometendo a me comunicar mais, orientar outras pessoas e ajudar os membros do meu time a avançar em suas carreiras, na esperança de que isso melhore minhas habilidades de liderança.”
Em suma, a liderança vulnerável em um mundo de extrema incerteza e interdependência é vital para progredir quando as respostas não são claras e qualquer pessoa na organização pode contribuir com conhecimento ou ideias vitais. Como uma de nós (Amy) observou em seu livro “A Organização Sem Medo”, “Para que o trabalho de conhecimento floresça, o local de trabalho deve ser aquele em que as pessoas se sintam capazes de compartilhar seus conhecimentos!”
Amy C. Edmondson é Professora de Liderança e Gestão na Harvard Business School. Ela é a autora de A Organização sem Medo (Wiley, 2018).
Tomas Chamorro-Premuzic é Psicólogo Organizacional, Diretor de Inovação da ManpowerGroup Professor of Business Psychology na Columbia University & UCL
Revisado e Traduzido em português por: Lúcio Flávio Rocha Junior – Instituto Internacional em Segurança Psicológica (www.segurancapsicologica.com) Fonte Original: Today’s Leaders Need Vulnerability, Not Bravado (hbr.org)