Por que a segurança psicológica é a chave para a criatividade e inovação no local de trabalho?

Por Stephen Fortune

30 de abril de 2018 | Traduzido por IISP – Instituto Internacional em Segurança Psicológica (www.segurancapsicologica.com)

O termo “segurança psicológica” recentemente capturou o interesse de muitos no mundo dos negócios. Mas o que exatamente isso significa em termos de como nossos cérebros funcionam? O que isso tem a ver com o desbloqueio de maior criatividade e inovação? E o que nós, como líderes e gerentes, podemos fazer para estabelecê-lo em nossas organizações? Falei recentemente com Patricia Riddell, professora de Neurociência Aplicada (PR) para responder a essas perguntas.

Mas primeiro, o que é segurança psicológica?

Antes de mergulhar no lado prático da segurança psicológica, precisamos entender o que isso significa do ponto de vista neurológico. Tudo começa com a sensação de segurança física, explicou PR. Existem partes do cérebro [incluindo a amígdala e o córtex cingulado] que nos mantêm alertas para os perigos físicos, mas na era moderna, onde provavelmente não seremos comidos por um carnívoro gigante diariamente, essas partes foram comandados para manter nossa identidade – e, portanto, nosso bem-estar emocional e senso de identidade – seguros também. Essencialmente, as mesmas partes do cérebro trabalham para nos manter fisicamente e psicologicamente seguros.

Em um ambiente de trabalho, segurança psicológica significa saber que você pode aparecer e ser você mesmo sem enfrentar resultados negativos. Ao ouvir isso, fez todo o sentido: é sobre me sentir seguro em um ambiente para que eu possa fazer o meu melhor. Mas conversando mais com o PR, percebi que é muito mais do que isso: a segurança psicológica é fundamental para que as pessoas possam ser criativas e inovadoras. Esse fato acendeu uma luz em meu cérebro sobre o quão importante isso realmente é no mundo dos negócios, principalmente quando a missão da grande maioria das organizações é – de alguma forma – sobre inovação e crescimento dos negócios.

A chave para isso está na palavra “identidade”. O PR colocou de forma simples: “Para poder ser criativo ou oferecer uma ideia totalmente nova que seja útil, você precisa ser capaz de sentir que há um potencial para que ela seja aceita: que alguém vai realmente ouvi-la. E se você, neste nível de identidade, sente que as pessoas vão rir de você ou julgá-lo, que você será ridicularizado, ou que as pessoas vão apenas dizer ‘Bem, isso é besteira’, então claramente, você está não será capaz de oferecer as ideias.”

Portanto, o fundamental para a segurança psicológica é sentir que não há problema em cometer um erro. “Isso dá às pessoas a liberdade de dizer ‘quero dizer o que estou pensando no momento. Pode ser ótimo, pode ser lixo. Mas podemos apenas falar sobre isso e ver o que ganhamos juntos?’ Isso é criatividade. A verdadeira alegria da criatividade é lançar ideias que parecem completamente fora do comum e então perceber que, na verdade, poderíamos fazê-lo. Nós poderíamos fazer isso acontecer”, disse o PR. isso é inovação.

O que acontece quando a segurança psicológica não existe?

Quando começo a trabalhar com organizações, o que ouço repetidamente é que elas precisam de crescimento orgânico: precisam apresentar novas ideias, precisam impulsionar seus negócios. Então, enquanto eles querem que as pessoas saiam de sua maneira atual de pensar, a falta de segurança psicológica muitas vezes impede que isso aconteça. Muitos segmentos tradicionalmente evitam falar das emoções (por exemplo, segmento financeiro ou construção) podem ver a segurança psicológica como muito complicada, “suave” ou “psicológica”. Mas com a inovação em mente, eu me pergunto como eles podem desbloquear essa percepção e qual será o custo se não o fizerem.

Fiz essa pergunta ao PR, cuja resposta foi: “Acho importante que as pessoas entendam que, se você não se sente seguro, grande parte de sua energia é destinada a proteger sua identidade no trabalho”. Por exemplo, você pode ir regularmente para o trabalho sabendo que seu chefe provavelmente ficará zangado se você fizer algo errado, ou você não tem certeza de que tipo de resposta receberá de uma ideia. Nesse caso, você entrará já esperando que possa estar em uma situação que provavelmente desencadeará uma emoção negativa intensa, mas não conseguirá deixá-la transparecer, o que significa que precisará usar muito de energia apenas para manter essa emoção sob controle. Se você fizer isso dia após dia, não sobrará energia para ser inventivo ou produtivo.

“Acho que é por isso que a segurança psicológica é tão importante. É porque você está efetivamente bloqueando muitos recursos que as pessoas poderiam usar para serem mais criativos ou assumir outro risco ou fazer algo diferente… Depois de desbloquear isso, você se descobrirá mais produtivo, terá ideias melhores, e será mais criativo”, explicou PR.

De que maneiras práticas podemos promover a segurança psicológica e liberar a criatividade?

Sabemos o que é agora e por que é tão importante, mas o que podemos fazer a respeito?

1. Reconheça a responsabilidade pela segurança psicológica

PR acredita que é extremamente importante entender onde está a responsabilidade de criar segurança psicológica: “Muitas das pesquisas inicialmente foram em torno da segurança psicológica nas equipes. E se você pensar sobre isso no nível de uma equipe, então claramente a organização tem um papel a desempenhar e a liderança tem um papel em fornecer a situação necessária. Mas você pode criar o ambiente mais seguro que deseja e nem todos se sentirão psicologicamente seguros”, disse ela. Portanto, além da organização e dos líderes, o PR me ensinou que os indivíduos precisam assumir a responsabilidade de garantir que sua equipe entenda o que eles precisam para se sentirem psicologicamente seguros.

Em primeiro lugar, os indivíduos precisam se perguntar: ‘O que eu preciso para me sentir psicologicamente seguro?’; ‘Como posso ajudar a organização a me dar isso?’ e ‘Como posso deixar claro quando não me sinto seguro para que possa ser ajudado?’ Sim, é hora de ter essas conversas desconfortáveis e reveladoras. A RP recomenda que os gerentes se sentem com sua equipe e peçam a cada membro que compartilhe seus pensamentos para garantir que estejam apoiando uns aos outros. Apavorante? Sim. Mas a criatividade pode fluir, pois as pessoas não estão mais dedicando energia para proteger sua identidade e manter suas ideias para si mesmas por medo de danos psicológicos.

• Escute. Realmente escute.

Acho que nós, como seres humanos, somos detectores de mentiras brilhantes: sabemos quando não estamos sendo ouvidos. Isso, por sua vez, concentra nossa atenção internamente para proteger nosso status e estado de ego. Ouvir significa estar aberto ao que a outra pessoa tem a dizer e oferecer comentários e críticas respeitosas. No início de um projeto, os líderes de equipe precisam estabelecer regras básicas claras sobre como ouvir quando os outros compartilham, agradecendo-lhes por sua contribuição e oferecendo maneiras de desenvolver as ideias dos outros – é essencialmente o velho “Nenhuma ideia é uma má ideia”.

• Aceite que com a criatividade vem o risco.

Proporcionar um ambiente psicologicamente seguro que permita às pessoas serem livremente criativas significa que algumas ideias serão arriscadas. Esse medo do risco pode impedir que as organizações realmente adotem a segurança psicológica, mas o PR diz que tudo se trata de aceitação e planejamento: “Acho que as organizações precisam aceitar que haverá momentos em que as coisas vão dar errado e que tudo bem…

Então, uma das coisas que a neurociência está nos dizendo é que há realmente uma necessidade de as pessoas serem confiantes o suficiente para seguir seu instinto no momento. Mas, ao fazer isso, tente pensar em como você pode realmente colocar as medidas em prática para poder fazer uma avaliação dessa ideia. Tudo vem com algum nível de risco, então não se trata de dizer: ‘Oh, é muito arriscado fazer isso’ ou sofrer muito com o resultado se a decisão for errada’, disse PR. Efetivamente este processo permite que organizações e líderes tenham maior segurança psicológica para que possam proporcionar a mesma liberdade para seus colaboradores

Em resumo

• Do ponto de vista da neurociência, é claro que você não obterá criatividade ou inovação sem segurança psicológica, por isso faz todo o sentido que os líderes prestem atenção e coloquem isso no topo de sua lista de prioridades.
• Os líderes precisam entender que a criatividade e a inovação podem ser prejudicadas por um profundo instinto de proteger a identidade de alguém quando se sente inseguro – assim como uma pessoa faria se estivesse em perigo físico.
• Proporcionar uma oportunidade de compartilhar e ouvir o que seu pessoal precisa para se sentir seguro é crucial para poder determinar exatamente como estabelecer um ambiente ideal para criatividade e inovação.
• Os líderes precisam criar um ambiente onde todos entendam e sigam os mesmos valores e regras sobre ouvir, compartilhar e respeitar.
• Aceite que o risco é inevitável e tudo bem – isso libera as pessoas para oferecer ideias e fazê-las acontecer. Prossiga com confiança, implementando medidas para mitigar possíveis falhas antes que elas aconteçam.

Fonte original: Building Situational Humility – Investigations of a Dog (investigationsquality.com) Why psychological safety is the key to creativity and innovation in the workplace | Oxford Group (oxford-group.com)